terça-feira, 17 de novembro de 2009

Valentina Giovagnini - L'amore non ha fine (2009)

Não sei porque eu demorei tanto tempo para escrever essa resenha. Bem, talvez eu saiba. É como um ponto final, como em tese, a maioria dos álbuns póstumos o são. E certamente por isso é tão complicado escrever sobre discos lançados após a morte do artista.
Já falamos aqui, mas para quem não sabe a jovem cantora Valentina Giovagnini morreu no dia 4 de janeiro de 2009 e o álbum "L'amore non ha fine" foi lançado em 5 de maio de 2009, e conta com trabalhos inéditos, não-inéditos e covers.
A música título do álbum é a primeira do cd. Logo na faixa de abertura já é possível notar um dos estilos mais marcantes da Valentina, a experimentação: nesse caso a mistura do erudito, com a participação do tenor Aldo Caputo, com o pop. Uma boa música, mas não uma das melhores do disco.
A segunda faixa é L'altra metà della luna e a voz da Valentina, mais aguda do que o normal, pode causar certo estranhamento na primeira audição. Cheguei até a pensar que a música tivesse sido gravada quando a cantora era adolescente, mas como não diz nada a respeito, imagino que tenha sido gravada em 2008, junto com as demais. A música, da metade para o final, melhora e fica até boa, mas nada de espetacular.
A terceira música é L'attesa infinita é de longe uma das melhores faixas do álbum. Para quem já conhece minimamente o trabalho da cantora pode-se dizer que é uma música bem no estilo Valentina, tanto na melodia quanto na letra. E é possível perceber nessa faixa também o quanto Valentina evolui vocalmente do seu primeiro álbum para este.
A faixa seguinte é Continuamente, outra ótima música. Porém com um diferencial da anterior, não tem o estilo da Valentina, ainda que a letra seja cheia de significado como, em geral, as letras cantadas pela Valentina o são. É um pop bem feito, que poderia ser cantado por qualquer outra cantora.
As faixas seis e sete são as músicas não-inéditas. Voglio quello che sento compõe o ábum de estreia da cantora: "Creatura nuda" e Non piango più foi lançada como single em 2003. A escolha desta última para integrar "L'amore non ha fine" se justifica pelo fato de ela não estar presente em nenhum álbum, mas de Voglio quello che sento, não. A não ser que essa fosse a preferida da Valentina. De qualquer forma, se o intuito era colocar uma música de "Creatura nuda" que não tinha sido single, outras escolhas mais adequadas poderias ter sido feitas como Metamorfosi, La formula ou Libera.
A oitava música é a ótima Bellissima idea, e novamente uma letra profunda que nos faz parar e pensar, e ao final ter a certeza de que ainda tem alguma parte que não compreendemos como deveríamos. Sensação que não é rara ao tentar entender as músicas da Valentina.
As faixas nove e dez são as também inéditas La mia natura e Non dimenticare mai. Ambas são boas faixas, mas não espetaculares. De qualquer forma, cabe ressaltar que o nível das músicas inédias deste álbum é superior ao de estreia.
Sonnambula é a penúltima inédita a compor o álbum e a única que não me agradou. Confesso que sempre pulo essa faixa quando escuto, acho-a tão chatinha. Mas conhecendo o trabalho da Valentina como conheço, sei que pode chegar o dia que eu escute a música e realmente a entenda e assim passe a gostar.
A última música inédita é Ogni viaggio che ho aspettato, a melhor música do álbum e, me atrevo a dizer, uma das melhores da Valentina junto com Senza origine e Il passo silenzioso della neve. Se você gostou dessas duas certamente vai adorar Ogni viaggio che ho aspettato, que assim como os primeiros singles da carreira da cantora tem fortes influências medievais. Se as demais músicas do álbum podem ser consideradas entre boas e ótimas, essa poderia ser definida como incrível.
Para mim o álbum poderia terminar aí que estava ótimo. Mas... foram incluídas duas covers: Hallelujah e Over the rainbow. Quando eu me pergunto o porquê dessa inclusão só me vem a mente o fato de ser um álbum póstumo e a família querer compartilhar essas gravações. Ainda acho uma decisão não acertada porque o nível de interpretação da Valentina nelas está muito abaixo do nível em que interpreta as sua próprias canções. Sem falar no inglês que deixa um pouco a desejar. E pensar que recentemente, no cd da Malika Ayane, elogiei a versão da cantora de descendência marroquina para a música Over the rainbow. Pena não poder elogiar também a versão da Valentina. Minha dica é: escute até Ogni viaggio che ho aspettato e termine a audição com chave de ouro.
A impressão geral do álbum póstumo da cantora é positiva, ainda que o álbum tenha seus altos e baixos. Indubitavelmente, um álbum apenas com as inéditas seria muito mais coeso. Porém, como já disse se trata de um álbum póstumo, e é justificável que a coerência entre as faixas possa ser deixada de lado para a realização de um álbum mais completo e com alguns "bônus" para os fãs.



O último trabalho da cantora de Arezzo é mágico e envolvente como todos os trabalhos dela foram desde que pisou no palco do Ariston em 2002. E o ponto final, infelizmente, fica com a sensação triste de que poderíamos ouvir muitas outras músicas mágicas como Ogni viaggio che ho aspettato, Il passo silenzioso della neve, Senza origine e Metamorfosi se tivéssemos a Vale por mais tempo entre nós.

Melhor(es) faixa(s): Ogni viaggio che ho aspettato; L'attesa infinita; Bellissima idea; Continuamente.
Pior(es) faixa(s): Sonnambula; Over the rainbow; Hallelujah
Nota: 7.5

4 comentários:

RCássia disse...

qual o nome desse instrumental que ela aparece em uma dessas imagens?

Thay disse...

Olá!
Não sou a mais entendida em instrumentos, mas creio que seja uma gaita-de-fole.
Abraços!

Fabio disse...

Excelente álbum. Envolvente, mágico. Uma obra sem tempo, como todas da Vale. Uma faixa que merece atenção especial é Non dimenticare mai. È incrível a maneira como vale a interpreta, dando vida a música, e o devido valor a cada palavra. Sobre a inclusão de Voglio quello che sento e Non piango più, tem uma explicação. Ambas as músicas haviam sido publicadas em single, no ano de 2003. Single esse que anteciparia o lançamento do álbum que estava por vir, mas que por desinteresse total das casas discográficas foi publicado apenas em 2009. Vale tinha esse disco pronto desde 2003, a única música gravada após esse período foi Sonnambula, que foi enviada para a pré-seleção do Festival de San Remo de 2008, sendo, infelizmente, excluída. Falando em San Remo, Vale teve sua participação negada em outras oportunidades, como em 2003 com L'amore non ha fine, 2005 com Inimmaginabile (música ainda inédita), e 2008, como já citado. Exclusões bastante inexplicáveis pelo altíssimo nível de seu talento e das musicas apresentadas, além da falta de qualidade que esse festival vem apresentando nas últimas décadas. Já em relação às ghost-tracks, me agradaram bastante, são gravações acústicas, apenas voz e piano e, creio eu, foram inclusas como forma de mostrar o talento da Vale, sem fazer uso de recursos de estúdio. Como colocado na resenha, trata-se de um “ponto final”, no entanto existem fortes rumores de que a família da Vale está procurando um meio de publicar suas músicas ainda desconhecidas pelo publico. Torço muito para que isso se concretize, pois uma artista desse nível jamais poderia ter terminado assim...

Thay disse...

Olá, Fabio!
Sobre as não-participações no Festival di Sanremo, são realmente injustas.
Um novo álbum da Vale, com essas possíveis músicas desconhecidas, que você comentou seria maravilhoso. Espero sinceramente que a família Giovagnini tenha êxito nessa empreitada.
Obrigada pelo excelente comentário!